terça-feira, 26 de setembro de 2017

A Menina Que Comia Livros


Lá pras bandas de Goiás, no meio do planalto central, acontecem muitas coisas, coisas do arco da velha, que podem parecer mentira, aos olhos dos mais descrentes.  No sertão é mesmo assim. Quando a rotina e o marasmo acampam na vida cabocla, eis que afloram do nada as mais incríveis histórias, passadas de boca a boca, pelos moradores locais. Não há por que duvidar do que vai ser dito agora, pois pode ser tudo verdade. Pelo menos é o que dizem os mais velhos!                     
              Numa casinha modesta, às margens do riacho doce, aos pés da serra dourada, vivia aquela menina faceira, personagem de uma linda história. O seu nome era Mariana.  Aninha, como era chamada, irradiava simpatia, pelo seu jeito educado e alegre de falar com as pessoas. Apesar de um pouco tímida, era muito inteligente e perspicaz. Curiosa como poucos, nada escapava aos seus olhos, atentos aos menores detalhes.  
              Os dias passavam lentos, sem que nada acontecesse de novo na vida daquela menina. Era sempre a mesma coisa. Acordava logo cedo, ou melhor, era “delicadamente” acordada, sacudida pela mãe:  -Acorda, preguiça. Está na hora de cuidar dos bichos! Eram seus cinco cachorros, que dormiam pelos cantos da casa, e algumas poucas galinhas, que circulavam pelo quintal. Entra dia, sai dia, era a única ocupação da garota, que nada conhecia da vida, mas queria algo mais, sem saber exatamente o quê, e nem mesmo onde buscar.
               Aninha, depois de uns tempos, passou a freqüentar a escola, num vilarejo bem próximo. Montada em sua bicicleta velha, tocando de volta os cachorros, que insistiam em acompanhá-la, lá ia ela pra aula, toda feliz da vida.  Assim aprendeu a ler e escrever, e assim sua vida mudou. Na biblioteca da escola, pegou gosto pelos livros. Lia um atrás do outro, passando a levá-los pra casa. Mergulhada em sua leitura, Aninha viajou mundo afora, nas asas da imaginação, e conheceu muitos lugares. Permitia-se adentrar nos enredos, para fazer parte das tramas, apresentando-se aos personagens, de quem se tornava íntima.
                 Adorava ler em voz alta, tendo como sua platéia aqueles atentos cãezinhos, que, depois da leitura, era do que mais gostava. Às vezes se distraía, deixando o material escolar espalhado em sua cama. Numa dessas ocasiões os bichinhos serelepes resolveram fazer a festa, mastigando os livros pelas beiradas, com seus dentes afiados, fazendo pequenos estragos. Aninha devolveu os livros, sob o olhar desconfiado da bibliotecária. O fato é que, da vez seguinte, ao adentrar a biblioteca, foi recebida pela mesma funcionária, que, de forma irônica e indiscreta, lhe saudou em voz alta: -Chegou a menina que come livros!
               Aninha, depois de um tempo, descobriu no computador da escola um meio de se comunicar com escritores, famosos ou iniciantes, e, assim, passou a divulgar suas críticas aos ensaios dos livros que pretendiam lançar. Era audaciosa a menina, às vezes um pouco dura nas críticas, mas sempre sincera e educada. Com o seu jeitinho dócil, a pirralha se dava ao direito de sugerir mudanças nos enredos, chegando às vezes a “assassinar“ personagens, quando entendia ser o momento preciso.  
               Um dia, num contato pela internet, ficou sabendo de um evento que aconteceria na cidade do Rio de Janeiro, a tal “Bienal do Livro”, uma feira que reunia periodicamente todos os grandes escritores do país e do mundo, para lançamento de livros, onde se permitia aos leitores fazer contato direto com eles.  Era seu grande sonho, manifestou-se Aninha, no “site” da internet, de forma despretensiosa.
               Mal sabia a menina o quanto era querida e respeitada, no meio daquela gente. Uma famosa escritora, daquelas que já conheciam o teor de suas críticas, enviou-lhe as passagens aéreas, com as reservas de hotel, tudo pago, obtendo autorização dos pais para levá-la ao evento. Lá se foi então Aninha, agora uma convidada ilustre, alçando seu vôo mais alto, mais alto até mesmo que os sonhos, rumo ao Rio de Janeiro.
                O fato é que depois do ocorrido a Aninha virou lenda, naquele vilarejo longínquo, lá dos rincões de Goiás. Dizem aqueles mais velhos, e disto não há que se duvidar, que a menina brilhou, chegando a ser disputada por gigantes da literatura, parece que Ziraldo e Maurício, pra ser capa de um livro e personagem de revista em quadrinhos. Dizem ainda que a menina está prestes a lançar seu primeiro livro, por uma Editora famosa.   

Tudo isto pode não ser mais que uma lenda.  Mas não duvidem de nada, pois Aninha tem sonhos altos, e não teme quaisquer limites, para alcançar seus intentos. Ela um dia vai brilhar!        


Texto do autor  Clóvis Vieira Machado    



Espero que gostem desse texto tanto quanto eu e não se esqueçam de deixar a opinião de vocês nos comentários.
Vamos dar apoio a esse novo autor incrível que está surgindo...


Beijos e até a próxima ♥♥♥

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